2008-04-20

é tão bom


ouvir

Vale a pena ver castelos no mar alto
Vale a pena dar o salto
P’ra dentro do barco, rumo à maravilha
E pé ante pé desembarcar na ilha
Pássaros de cores que eu nunca vi
Que o arco-íris queria para si, eu vi
O que quis ver afinal

É tão bom uma amizade assim
Ai, faz tão bem, saber com quem contar
Eu quero ir ver quem me quer assim
É bom p’ra mim, é bom p’ra quem tão bem me quer

Vale a pena ver o mundo aqui do alto
Vale a pena dar o salto
Daqui vê-se tudo às mil maravilhas
Na terra as montanhas e no mar as ilhas
Queremos ir à lua mas voltar
Convém dar a curva sem se derrapar
Na avenida do luar

É tão bom uma amizade assim
Ai, faz tão bem, saber com quem contar
Eu quero ir ver quem me quer assim
É bom p’ra mim, é bom p’ra quem tão bem me quer

2008-04-10

baraka


a film by Ron Fricke
Baraka
is an incredible nonverbal film containing images of 24 countries from 6 continents, created by Ron Fricke and Mark Magidson, with music from Michael Stearns and others. The film has no plot, contains no actors and has no script. Instead, high quality 70mm images show some of the best, and worse, parts of nature and human life. Timelapse is used heavily to show everyday life from a different perspective. Baraka is often considered a spiritual film.

Baraka is an ancient Sufi word, which can be translated as "a blessing, or as the breath, or essence of life from which the evolutionary process unfolds." For many people Baraka is the definitive film in this style. Breathtaking shots from around the world show the beauty and destruction of nature and humans. Coupled with an incredible soundtrack including on site recordings of The Monks Of The Dip Tse Chok Ling Monastery.

Baraka is evidence of a huge global project fueled by a personal passion for the world and visual art. Working on a reported US$4 million budget, Ron Fricke and Mark Magidson, with a three-person crew, swept through 24 countries in 14 months to make this stunning film.
One of the very last films shot in the expensive TODD-AO 70mm format, Ron Fricke developed a computer-controlled camera for the incredible time-lapse shots, including New York's Park Avenue rush hour traffic and the crowded Tokyo subway platforms.

Some people find the lack of context in Baraka occasionally frustrating, not knowing where a section was filmed, or the meaning of the ritual taking place. However, the DVD version includes a short behind-the-scenes featurette in which cinematographer Ron Fricke explains that the effect was intentional. "It's not where you are that's important, it's what's there."
The DVD also includes behind the scenes footage, including scenes of the grueling shoot at Ayer's Rock in Australia, when a plague of flies of Biblical proportions made it impossible to film until they rigged up a vacuum to suck the bugs away from the lens.

Soundtrack

Baraka has a stunning and varied soundtrack. Primarily composed by Michael Stearns, but also including contributions from many other artists and performers.

Samsara - the sequel

Ron Fricke is working on a sequel to Baraka entitled Samsara.

Credits

Directed and filmed by Ron Fricke.
Produced by Mark Magidson.
Edited by Ron Fricke, Mark Magidson and David Aubrey.
Production supervised by Alton Walpole.
Music by Michael Stearns, Dead Can Dance, David Hykes/The Harmonic Choir, Somet Satoh, Anugama & Sebastiano, Kohachiro Miyata, Inkuyo, L. Subramaniam, Monks of the Dip Tse Chok Ling Monastery, Rustavi Choir, Ciro Hurtado, Brother.

2008-04-09

2008-04-07

perfect day

som











Oh its such a perfect day,

Im glad I spent it with you.
Oh such a perfect day,
You just keep me hanging on,
You just keep me hanging on.

2008-04-01

equinócio

AFINAL

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora dEle há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.

Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é Espírito,

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!
Sursum corda! Na noite acordo, o silêncio é grande,
As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam

Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos
Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.
Sursum corda! Acordo na noite e sinto-me diverso.
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,

Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça.

Sursum corda! ó Terra, jardim suspenso, berço
Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva!
Mãe verde e florida todos os anos recente,
Todos os anos vernal, estival, outonal, hiemal,
Todos os anos celebrando às mancheias as festas de Adonis
Num rito anterior a todas as significações,
Num grande culto em tumulto pelas montanhas e os vales!
Grande coração pulsando no peito nu dos vulcões,
Grande voz acordando em cataratas e mares,
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança,
Em cio de vegetação e florescência rompendo
Teu próprio corpo de terra e rochas, teu corpo submisso
A tua própria vontade transtornadora e eterna!
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados,
Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones,
Mãe caprichosa que faz vegetar e secar,
Que perturba as próprias estações e confunde
Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos!

Sursum corda! Reparo para ti e todo eu sou um hino!
Tudo em mim como um satélite da tua dinâmica intima
Volteia serpenteando, ficando como um anel
Nevoento, de sensações reminescidas e vagas,
Em torno ao teu vulto interno, túrgido e fervoroso.
Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente
Meu coração a ti aberto!
Como uma espada traspassando meu ser erguido e extático,
Intersecciona com meu sangue, com a minha pele e os meus nervos,
Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre,

Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.

Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.

Sou uma grande máquina movida por grandes correias
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,
E nunca parece chegar ao tambor donde parte ...

Meu corpo é um centro dum volante estupendo e infinito
Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si,
Cruzando-se em todas as direções com outros volantes,
Que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço
Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.

Dentro de mim estão presos e atados ao chao
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,

A chuva com pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minhalma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!

Fernando Pessoa